sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CAMINHONEIRO MORRE NA CURVA
Morreu na RSC-453 Mateus Feil, caminhoneiro com apenas 26 anos de idade, no amanhecer desta-sexta-feira, após perder o controle de seu caminhão em uma curva no km 185, em São Francisco de Paula, na Serra gaúcha. O veículo era de Garibaldi e estava carregado com tomate e banana, cujo destino era Caxias do Sul. Ao fazer a curva, certamente com velocidade excessiva, tombou o caminhão ficando esmagado nas ferragens. A jovem Daiane Corrêa da Silva que lhe fazia companhia, também de 26 anos, sofreu ferimentos leves. O trânsito no local ficou interrompido por algumas horas.
EXCESSO DE CARGA HORÁRIA E CANSAÇO CONTINUA PROVOCANDO ACIDENTES
O cansaço por conta do excesso da carga horária é responsável por cerca de 20% dos acidentes fatais nas rodovias durante a noite no país, conforme dados de uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo.Em Sergipe, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado, José Adelson Carvalho, o percentual de acidentes de um modo geral sobe para 95%.Alguns dos entrevistados confirmaram que é difícil passar uma semana sem acontecer uma tragédia nas estradas. Embora não exista uma estatística de acidentes e mortes nas estradas por conta do excesso da jornada de trabalho, motoristas garantem que o número é grande. Nos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro existem portarias que determinam as empresas de ônibus realizarem uma parada obrigatória para viagens acima de 170 km e duas para as que superem os 340 km. No entanto, nas demais capitais, alguns motoristas revelaram desconhecerem alguma portaria nesse sentido. A informação é de que depois de duas horas dirigindo o motorista começa a perder os reflexos. Embora os motoristas de ônibus tenham uma grande jornada de trabalho, os caminhoneiros apresentam uma das maiores carga horária de trabalho, se comparada a outros setores.Por conta da jornada de trabalho excessiva e o cansaço, a saída para alguns caminhoneiros é o "arrebite', que serve como estimulante para retardar o sono. A informação é de que muitos deles não param porque têm prazos apertados de entrega da mercadoria a cumprir, exigido pelas empresas onde trabalham. Caso contrário têm o valor do frete descontado. Histórias de caminhoneirosAs histórias dos caminhoneiros são das mais variadas. Mas algumas coisas eles têm em comum: a saudade da família, a solidão e o cansaço. O caminhoneiro José Elenildo Evaristo, 35, que dirige há quatro anos, disse que gosta do que faz porque nunca está no mesmo lugar. Para ele, o ruim é a saudade da família. Pai de um menino de 12 anos, às vezes a esposa viaja com ele. Mas na maioria da vezes passa até três semanas sem ver a família. Para matar um pouco a saudade todos os dias liga para ela. Evaristo contou que já cochilou ao volante, mas a esposa que estava com ele percebeu e segurou o volante e chamou por ele. Disse que prefere viajar à noite por ser mais fresco, garante que chegou a viajar sem parar por seis horas. Sobre a parada obrigatória, contou que pára e dorme no máximo três horas. Mas isso depende das cargas que consegue. Diferente de outros caminhoneiros, ele revelou que não toma arrebite para ficar acordado porque considera perigoso. Considerando a estrada um vício, ele disse que falou para a esposa que aos 45 a 50 anos pretende parar e comprar um caminhão para trabalhar dentro da cidade. Na pequena cozinha improvisada do caminhão, ele carrega de tudo: o fogão, arroz, feijão, carne seca, lingüiça defumada, macarrão e tomate. Meio-dia ele pára e começa a preparar o almoço. A família Mesacasa do Rio Grande do Sul, é uma entre tantas que seguidamente é flagrada fazendo um verdadeiro banquete ao lado do caminhão. Com 40 anos de estrada, Geni Mesacasa, 62, a mulher Geneci, 49 e os três filhos estavam curtindo os últimos dias de férias n a semana passada. Ele contou que a vida nas estradas tem seus encantos, como também os sofrimentos. Quando não tem contratempo com o carro ou com a saúde a viagem até que é boa. Geni explica que não é só o veículo que tem problemas nas estradas. O motorista também tem. Parou por várias vezes para ficar internado em hospitais. O caminhoneiro revelou que faz questão de viajar no mínimo uma vez por ano com a família na época de férias. Como possuem dois caminhões, o filho mais velho também o acompanha nas estradas. Sempre andam um acompanhando o outro para ajudar na hora da necessidade. Para ele, é uma proteção maior para ambos nas estradas. O gaúcho admitiu que a empresa que exigir horário para viagem ele não carrega porque considera um abuso cumprir um horário apertado. Só que a empresa não está correndo risco. Ele defende uma decisão dos governos de cada estado para extinguir as cargas com horários apertados. Como também cinco horas para dormir e duas ou três para parada. Até porque caminhão é feito de ferro, mas também não suporta longas viagens. Ele contou que não carrega quando o horário é apertado. Sobre o cochilo ao volante, ele considera normal. Só que a pessoa tem que estar consciente que no momento do sono deve encostar o carro no primeiro posto para dormir por 10 a 30 minutos. Segundo ele, tem motoristas que são abusados e insistem no erro. A preocupação é que durante esses anos de estradas já presenciou diversos acidentes por conta da bebida. Geneci Mesacasa, 49, disse que ser mulher de caminhoneiro é muito difícil porque tem que criar os filhos sozinha e tomar conta da casa. Nas datas importantes o marido e o filho quase sempre não estão em casa. O lado bom é que conhecem vários estados do país quando viajam juntos. Tristeza e tragédias nas estradas trazem desânimoO caminhoneiro Nilton Antônio Vaz Palmeira, 56, do Rio de Janeiro, está na estrada desde 1972. Para ele, essa vida se tornou quase natural. "É uma vida onde você está no mundo e ao mesmo tempo está fora dele. A solidão é grande. Divorciado há 11 anos, ele disse que até o momento não constituiu família por conta do trabalho. Mas está pensando em parar e mudar de atividade. Para Nilton, é difícil passar uma semana sem acontecer um acidente ou tragédias nas estradas. Ele atribui o fato a carga horária longa que são forçados a fazerem. Ele contou que à noite trabalha no máximo até às 22 horas para poder dormir. Até porque considera o sono uma questão de segurança. "Eu posso dormir em cima de alguém ou alguém dormir em cima de mim durante um acidente". Arrebite ele disse que não usa para trabalhar à noite. Até porque perde o efeito e no final pode matar alguém ou morrer. As empresas exijam o cumprimento de horário, principalmente para quem trabalha com caminhão baú que exige horário, já que transporta verduras, animais, frangos, etc. Muitas empresas montam uma transportadora e oferecem vantagem para o cliente contando com o motorista que irá chegar no local no horário estipulado. Esquece que o homem não é uma máquina. Muitos deles fazem vários estados sem dormir para poder cumprir o horário. Aquele que não cumpre o horário é descontado do pagamento. Dessa maneira, ele disse que não trabalha. Nilton que já cochilou no volante, disse que só percebeu porque quando acordou já tinha passado pelo posto de parada. Ele contou que o motorista está com os olhos abertos, mas o subconsciente se desliga. É aí que acontecem os acidentes. Já perdeu vários amigos cominhoneiros em acidentes de trânsito. Longe de casa, motoristas se alimentam malA maioria dos motoristas geralmente não tem cuidado com a alimentação. Até por conta do trabalho. Muitos se alimentam com feijão, carne seca, arroz, etc. De acordo com a nutricionista Silvina Aquino, os motoristas se alimentam em horários irregulares porque ficam esperando chegar na cidade para se alimentar ou para fazer a comida no próprio caminhão. Ela disse que os motoristas geralmente se alimentam muito com massa e o resultado é uma alimentação pobre sem vitaminas e sais minerais. O ideal é que façam uma harmonização na alimentação, inclusive fazendo os lanches para que reduza a fome para as refeições principais. Já que eles ficam muito tempo sentados e sem nenhuma atividade física, acumulam gorduras, principalmente a abdominal, o que é prejudicial. Uma alimentação sadia irá evitar a obesidade que é grande entre os profissionais do volante.

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